A ciência, através da fisiologia, já explicou
porque corredores negros são melhores do que os demais. Seus corpos são
realmente mais bem preparados para tal situação e isso se traduz em uma
supremacia em competições internacionais.
Ora, há descendentes dessa raça gloriosa pelo
mundo inteiro, então porque os negros africanos são tão superiores aos demais
em corridas de longa distância? Essa é uma dúvida que assolava os pensamentos
de Cléber, um fundista brasileiro, negro, cujos bisavós foram trazidos ao
Brasil em navios negreiros. Em seu sangue fluia a genética de grandes corredores
e sua alma aspirava por isso, mas incrivelmente os seus irmãos da África
costumavam chegar à sua frente em todas as competições da qual participava.
Isso era algo que o incomodava, já que tinha boa preparação e boas condições
para fazê-la. O problema nem era falta de dinheiro, pois tinha bons
patrocinadores. Ainda assim, seus irmãos africanos – com condições de treino e vida
inferiores – eram capazes de chegar à sua frente com grande frequência. Isso o
intrigava.
Decidido a tirar essa história a limpo, Cléber e
o seu treinador fizeram as malas e partiram para o outro lado do oceano Atlântico,
rumo a suas origens.
Ao chegar em território africano, ambos foram
recebidos com festa por um grupo de atletas locais notadamente reconhecidos
como excelentes fundistas. Foi fácil notar que a pobreza imperava no lugar e,
certamente, havia apenas o mínimo de recursos. Como então tal lugar seria capaz
de formar tantos campeões? A resposta não tardou a surgir e veio diretamente da
boca de Malik, um dos corredores mais experientes do grupo:
– O segredo é a pontaria e a sabedoria na hora
de escolher o javali.
– Como assim? – indagou perplexo o corredor
brasileiro.
– Sim, o javali e a pontaria fazem toda a
diferença – e Malik afastou-se com ar de simplicidade, como se aquela resposta
fosse óbvia.
Como o sol já estava se pondo quando chegaram,
acomodaram-se em um quartinho muito simples e acordaram muito cedo para começar
a treinar. Para a surpresa de Cléber e seu treinador, os demais corredores
ainda estavam dormindo e acordaram pouca coisa mais tarde para realizar as suas
tarefas cotidianas. Intrigado com aquele comportamento, Cléber indagou:
– Vocês não treinam pela manhã? Sei que durante
o dia o sol e o calor são muito fortes e isso se torna inviável.
– Não, treinamos à noite. Ontem mesmo nós
corremos, mas não o grupo inteiro, pois havia poucos javalis. Não o chamamos
porque havia chegado de viajem e estava cansado. Não conseguiria nos acompanhar
– respondeu Malik.
Aborrecido e um tanto sem jeito, Cléber quis
saber se eles correriam novamente aquela noite e teve a seguinte resposta:
– Sim, se houver javalis e a pontaria for boa.
Aquilo não fazia nenhum sentido para o
brasileiro que não entendia o que javalis e boa pontaria significavam para um
treino de maratonistas. Perguntava-se se eles não eram, na verdade, caçadores.
No entanto, não havia visto nenhuma carcaça de javali na vila. Pelo contrário,
eles pareciam ter grande respeito pelo animal e isso se traduziu na frase que
ouviu de Malik: “Grandes javalis formam grandes campeões”.
Naquela noite, Cléber e o seu treinador foram
convidados para praticar com os locais, mas estes pediram que o treinador
mantivesse distância segura. Então Malik, sem rodeios, perguntou a Cléber:
– Qual foi a última vez que você bateu uma
punheta?
Completamente atônito, Cléber retrucou:
– Mas o que isso tem a ver com o meu treino?
– Tem tudo a ver! – exclamou Malik – Você
precisa ter boa pontaria para ejacular e correr pela sua vida.
– Correr pela minha vida? Boa pontaria quando eu
for ejacular? Malik, eu não estou entendendo nada!
– Logo vai entender, observe e aprenda como o
javali forma campeões.
Malik e os demais corredores fizeram o
brasileiro se aproximar de um local na savana e logo sentenciou:
– Coloca pra fora e bate punheta.
– Tá louco, Malik? Não vou fazer isso no meio da
savana africana e com um monte de homens aqui me olhando. Eu tenho a minha
dignidade! – respondeu Cléber.
– Se não fizer o serviço, não contamos o segredo
de ser um campeão – falou Malik, decidido.
Sem outra opção, Cléber colocou o “instrumento”
pra fora e começou a descabelar o palhaço. Quando estava próximo de consumar o
feito, Malik sussurrou em sua direção:
– Vira mais para a direita pra acertar a
pontaria.
Cléber obedeceu e, logo depois de ejacular, com
as pernas ainda trêmulas escutou uma respiração sinistra logo à sua frente. Em
seguida percebeu um estranho barulho de cascos atritando o solo e, assim que
Malik jogou a luz da lanterna na direção do som, pode vislumbrar um grande
javali que mais se parecia com um tanque de guerra, com muitos músculos e
grandes chifres no focinho.
– Acertou em cheio! – vibrou Malik, apontando
para a cara do javali que estava toda cheia de esperma.
– E agora, o que eu faço? – perguntou Cléber em
desespero, e com o “instrumento” ainda na mão, ao perceber que o animal ciscava
em sua direção.
– Esse é o nosso método para forjar campeões, é a nossa seleção natural. Agora você corre, e corre muito porque a sua vida depende
disso – respondeu Malik exultante em seu forte espírito africano de vencedor.